Programa Especial de Realojamento - 30 anos
O que foi o PER?
O PER teve por objectivo, através do Decreto Lei 163/93 de 7 de maio, a “erradicação” dos “bairros de barracas” existentes nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Com a sua execução foi possível a eliminação de diversos “bairros de barracas” em 28 concelhos e a construção de mais de 34 mil habitações públicas, providenciando assim habitação condigna a mais de 130 mil pessoas.
Mas o PER foi muito mais do que “erradicar” a “chaga social” dos “bairros de barracas”, conforme a terminologia utilizada no diploma de 1993. Hoje é possível afirmar que além do realojamento da população e da harmonização urbanística, o PER permitiu a reconciliação da cidade com a sua população mais desfavorecida, cuja situação de pobreza habitacional já se arrastava há décadas.
Fogos protocolados e construídos por área metropolitana
Concelho | Fogos protocolados | Fogos construídos | Execução (%) |
---|---|---|---|
Alcochete | 44 | 38 | 86 |
Almada | 2156 | 1095 | 51 |
Amadora | 5419 | 2442 | 45 |
Azambuja | 80 | 79 | 99 |
Barreiro | 461 | 190 | 41 |
Cascais | 2051 | 1537 | 75 |
Lisboa | 11129 | 9135 | 82 |
Loures | 3376 | 2253 | 67 |
Mafra | 87 | 87 | 100 |
Moita | 160 | 159 | 99 |
Montijo | 307 | 307 | 100 |
Odivelas | 528 | 219 | 42 |
Oeiras | 3165 | 2139 | 73 |
Palmela | 61 | 27 | 44 |
Seixal | 635 | 286 | 45 |
Sesimbra | 128 | 128 | 100 |
Setúbal | 1272 | 887 | 70 |
Sintra | 1591 | 1069 | 67 |
Vila Franca de Xira | 765 | 678 | 89 |
Tabela - Fogos Protocolados e construídos no âmbito do PER. Fonte: IHRU, 2018
Concelho | Fogos protocolados | Fogos construídos | Execução (%) |
---|---|---|---|
Espinho | 458 | 367 | 80 |
Gondomar | 1964 | 1964 | 100 |
Maia | 1517 | 1142 | 75 |
Matosinhos | 3982 | 2616 | 66 |
Porto | 1543 | 1452 | 100 |
Póvoa do Varzim | 470 | 281 | 60 |
Valongo | 629 | 629 | 100 |
Vila do Conde | 909 | 770 | 72 |
Vila Nova de Gaia | 3169 | 2602 | 75 |
Tabela - Fogos Protocolados e construídos no âmbito do PER. Fonte: IHRU, 2018
Lisboa antes do PER
De acordo com dados reportados pelo INE, em 1981 existiam em Portugal 46 391 alojamentos familiares não clássicos, ou seja, habitações que não reuniam todas as condições de habitabilidade. Em Lisboa, o número de alojamentos nestas circunstâncias ascendia a 10 643.
Ainda antes do PER, em 1987, o município de Lisboa celebrou com os institutos de habitação então existentes o Programa de Intervenção a Médio Prazo (PIMP). Este programa foi particularmente importante para realojar a população que residia em bairros provisórios municipais, a maioria construídos ainda durante o Estado Novo na década de 1940, assim como para o realojamento de famílias que viviam em fogos camarários com elevados níveis de sobreocupação, e de famílias residentes de alojamentos precários que interessavam demolir em virtude da construção de novas infraestruturas rodoviárias. Do ponto de vista temporal, o PIMP foi em grande medida concretizado em paralelo com o PER, na década de 1990, tendo contribuído para a construção de cerca de 7 500 habitações municipais.
Em 1993, no âmbito de um levantamento concretizado pelos serviços municipais tendo em vista o desenvolvimento do PER no município de Lisboa, foram identificados 97 núcleos de habitações precárias, com 10 030 alojamentos e 11 129 agregados familiares, num total de 37 299 pessoas.
Bairros como Musgueira, Casal Ventoso, Relógio, Chinês, Curraleira, entre outros, proliferavam pela cidade como focos de grande precariedade habitacional e social, associados ao tráfico e consumo de drogas, à pobreza extrema, à prostituição e à ausência de expectativas de vida.
Antigos “Bairros de Barracas” em Lisboa
Entre 1987 e 1994, no âmbito do PER e do PIMP, foram identificados 188 núcleos de barracas no concelho de Lisboa. Casal Ventoso, Musgueira, Bairro de Campolide, Bairro Chinês, Curraleira, são alguns desses bairros, entretanto demolidos.
2017
Musgueira (Norte e Sul)
1206
Casal Ventoso
1157
Bairro do Relógio
982
Marquês Abrantes/Bairro Chinês
879
Alto da Eira
608
Curraleira
Em grande parte das ocasiões, estes bairros precários consistiam em labirintos de casas dispersas, construídas em encostas de declive acentuado ou locais de difícil acesso, nas sombras da cidade, em que residiam milhares de indivíduos.
Parte substancial dos bairros carecia de ligações adequadas às redes públicas de abastecimento de água, de saneamento básico e de electricidade, sendo frequente os moradores providenciarem soluções criativas para resolver estas situações. Outros aspectos que caracterizavam estes espaços eram a insuficiente iluminação pública, escassa recolha de lixo, a inexistência de pavimentação nos arruamentos, assim como a carência de equipamentos colectivos e de transportes públicos.
A pobreza, exclusão, segregação e estigmatização destes bairros era evidente, assim como as graves carências higiénico-sanitárias que potenciavam a disseminação de doenças, surtos e epidemias. Os bairros de maior dimensão acrescentavam à exclusão um estigma social e espacial intenso, sendo amiúde associados ao insucesso escolar, crime, toxicodependência, tráfico e consumo de droga.
Conheça a história de alguns destes bairros
Bairro do Relógio
O seu nome surge da proximidade com a rotunda junto do Aeroporto (Rotunda do Relógio)
Bairro da Boavista
O nome do bairro está associado à sua localização na vertente norte do Parque de Monsanto
Bairro Chinês
Situado nos terrenos da Quinta do Marquês de Abrantes
Musgueira
Situado no extremo norte da cidade, deve a sua toponímia, à possível existência de musgos no local.
Casal Ventoso
A palavra Ventoso teria a ver com o facto de aí soprarem ventos de encosta originários do Tejo e da serra de Monsanto