Respostas aos tempos de hoje

Pretende-se fazer um conjunto de recomendações para que o parque edificado resista com um mínimo de danos, a sismos que possam vir a ocorrer no futuro. Não é intenção obstaculizar a reabilitação mas, antes, dar-lhe a segurança suficiente para que não venham a surgir mais tarde problemas graves.

Neste sentido, toda a reabilitação sísmica deverá ser a custos razoavelmente baixos quando comparados com os custos da reabilitação que não entra com a parte sísmica, e deverá encontrar soluções que se coadunem com as expectativas de quem quer viver em espaços modernos, e não apenas em pequenos espaços como eram os que a tecnologia mais antiga exigiam. Cabe aos arquitetos e engenheiros trabalhar em conjunto para que consigam encontrar soluções interessantes aos possíveis compradores e permitam um negócio atraente.

Porquê o reforço sísmico dos edifícios de alvenaria?

As Figuras 1A, 1B e 2, seriam, por si só, inequivocamente elucidativas de “Porquê o reforço sísmico dos edifícios de alvenaria?”. Podemos, assim, observar o efeito de um sismo com acelerações à superfície de 0,43g (~4m/s2) – que deixou totalmente destruída a vila de Amatrice, no centro de Itália, recentemente reabilitada para atrair investimento –, sem reforço sísmico das edificações, e como ficou uma outra vila, Norcia, próxima da primeira, depois de atingida por um sismo, com acelerações à superfície de 0,49g (~5 m/s2) (superiores às de Amatrice), mas que tinha sido reabilitada com reforço sísmico das edificações.

Também esclarecedor, é o que nos transmite a Figura 2, tirada após o Sismo do Faial, de 1998. Nela, podemos observar o estado em que ficaram duas habitações, inicialmente idênticas, situadas na mesma rua, lado a lado, sendo que a da esquerda tinha sido alvo de um reforço moderado – tanto quanto se sabe, com simples rede de capoeira aplicada nas paredes exteriores e depois rebocada –, enquanto a segunda, a da direita (da qual apenas restam escombros), não.

Este comportamento, de extrema debilidade das construções de alvenaria para suportarem eventos sísmicos, pode ser explicado formalmente pela muito baixa resistência que este material, extremamente frágil, apresenta aos esforços de corte (Esforço Transverso), cerca de 20x inferior à resistência do betão armado, e uma praticamente nula resistência a esforços de tração – logo, também, de flexão –, ou seja aos esforços induzidos pelas forças de inércia horizontais induzidas pelas ações sísmicas.

No caso de Lisboa, cerca de 51% dos edifícios construídos desde a reconstrução Pombalina até à era moderna, antes do advento do betão armado, por volta da primeira metade do século XX, são em alvenaria. Pode afirmar-se, na generalidade, mas com suficiente rigor, que, em caso de sismo, destes edifícios, apenas os que têm menos de 3 pisos e que se situem construídos em solos muito rijos (ao contrário do que acontece por exemplo na Baixa da cidade), terão capacidade para suster, melhor ou pior, tal ação.

Mas, se a sua debilidade original já é por si elevada, o tempo e ação humana encarregaram-se de a aumentar. Ao longo dos anos, estes edifícios foram, e continuam a ser, alvo de obras de reabilitação puramente cosmética, adaptando-os às modernidades que vão surgindo, sem que nenhuma legislação ou mera ética impeçam a sua cada vez maior degradação. O corte de elementos estruturais para instalação de cabos e condutas, a eliminação de paredes resistentes e a sua eventual substituição por vigamentos metálicos para aumentar os espaços interiores, a substituição de pavimentos leves, de madeira, por lajes em betão armado, o aumento do número de pisos para rentabilização dos imóveis são, entre outras, práticas correntes que em muito agravam a sua já muito elevada vulnerabilidade.

Tais práticas devem, com grande urgência, ser suprimidas e substituídas, caso não queiramos assistir a uma destruição generalizada da cidade como a que ocorreu em 1356, 1528, 1531 e 1755. Sob pena de assistirmos em Lisboa, a cenários como os que recentemente resultaram da destruição de L’Aquila (centro histórico) e Amatrice, importa, com urgência abandonar as práticas, inconscientes, negligentes ou puramente ignorantes da reabilitação cosmética e passar, com a maior urgência, à prática da reabilitação consciente, com reforço sísmico.