Reforço Sísmico
Proteção Civil - Previsão e Prevenção
Os sismos são fenómenos naturais que podem ser considerados imprevisíveis. De facto, em toda a história da humanidade só existiu um caso em que antes de um sismo a crosta terrestre – antes da rotura – deu sinais suficientes para que os cientistas pudessem concluir que um sismo de forte potencial destrutivo estava prestes a acontecer.
Foi na China em 1975, tendo dado origem à evacuação da cidade de Haicheng, que foi completamente destruída no dia após a evacuação. Nessa época houve a esperança de que se poderiam vir a prever os grandes sismos. Essa esperança desapareceu rapidamente.
No ano seguinte, sem qualquer sintoma prévio, ocorreu o maior sismo do século XX, que destruiu a cidade de Tangshan, também na China, matando mais de meio milhão de pessoas. Nunca mais houve um aviso como o de Haicheng.
Sabemos hoje que não podemos confiar na previsão de curto prazo para nos precavermos contra os sismos. Até porque a previsão de curto prazo permite evitar as mortes das pessoas pela evacuação das cidades, mas não permite evitar a destruição destas e de toda a infra-estrutura que suporta o desenvolvimento económico e social.
No entanto, estudando as três fontes seguintes, é possível prever as características dos sismos que podem afetar determinadas regiões durante determinados períodos de tempo:
- os sismos do passado através dos relatos históricos e informações do que ocorreu, incluindo sismos ocorridos há muitas centenas de anos;
- os sismos mais recentes (essencialmente dos séculos XX e XXI) de que há registos em aparelhos de medição que permitem caracterizar os sismos de forma mais detalhada;
- a evidência geológica, incluindo a identificação e caracterização das falhas onde já ocorreram sismos.
É com base nisto que se definem, para cada região, sismos tais que seja pouco provável que sejam excedidos durante longos períodos de tempo. Desta forma, definem-se sismos de projeto que são incorporados nos regulamentos para o projeto de edifícios e infra-estruturas, tal como se discute mais adiante.
Em termos mediáticos, quando se fala da questão sísmica, muitas vezes o foco é posto na Proteção Civil, ou seja, no socorro após o sismo. No entanto, a experiência do socorro após sismos intensos causadores de grande devastação, demonstra que esta via apenas reduz ligeiramente o número de vítimas em relação ao total. A Figura 1 mostra um excerto dum folheto da Proteção Civil portuguesa sobre essa missão de salvamento na Turquia em 1999.
O problema é que, como a imensa maioria das vítimas e dos danos económicos ocorre durante o sismo, a Proteção Civil não os pode evitar porque o socorro ocorre depois do sismo. Resumindo, esta não é a forma mais eficiente de reduzir os efeitos dos sismos, porque em caso de ocorrência, a Proteção Civil só age no terreno depois de declarada a emergência. No entanto, ela é indispensável para o apoio aos sobreviventes, por exemplo levando feridos aos hospitais e assim evitando mais mortes, e dando comida e abrigo aos desalojados. Assim, a Proteção Civil deve ser encarada como um importante complemento das políticas preventivas.
A única forma de reduzir significativamente as consequências dos sismos é através de políticas preventivas, ou seja, agindo antes dos sismos e não depois. Isto é hoje possível, pois o desenvolvimento da engenharia sísmica, em particular nos últimos 70 anos, permite projetar e construir edifícios novos e reforçar os existentes para resistir a sismos extremamente fortes, conforme se descreve mais detalhadamente nos capítulos seguintes.
É, assim, possível que uma sociedade esteja bem preparada para este tipo de eventos sem conhecer a data em que ocorrerão. Bem preparada não significa a inexistência de riscos, porque isso é impossível. Significa que o nível de risco é tão baixo, que a probabilidade de uma pessoa morrer por causa de sismos é inferior à probabilidade de morrer devido a muitas outras causas na vida de todos os dias, por exemplo, por atropelamento, acidente de automóvel, ataque cardíaco, atentado terrorista, etc.
Outro aspeto que cumpre realçar, é que as construções anti-sísmicas podem ter uma baixa probabilidade de colapso mas vibram quando ocorre o sismo. Assim, podem ocorrer ferimentos e até mortes, devido à queda de objetos (elementos não-estruturais) dentro e fora dos edifícios.