Considerações Gerais

Contrariamente à prática corrente, o Risco Sísmico associado aos edifícios, não se cinge apenas aos danos estruturais e humanos, bem como não decorre exclusivamente dos danos estruturais. Entre 60% a 70% dos ferimentos e internamentos após um sismo, devem-se à queda de elementos não-estruturais. Como o nome indica, estes não fazem parte da estrutura (fundação, pilar, viga), são todos os outros que compõem um edifício, sendo classificados em três categorias principais:

  • Elementos arquitetónicos (estátuas, paredes divisórias, varandas, tetos falsos, entre outros);
  • Conteúdos (mobiliário, objetos);
  • Equipamento mecânico e eletromecânico (elevadores, condutas de gás, água, rede elétrica, sistemas de sprinkler, entre outros).

São os sismos mais moderados e por isso mais frequentes que atingem principalmente esses elementos, causando vítimas, feridos, perda de bens e de funções.

Os elementos não-estruturais representam cerca de 70% a 85% do custo de um edifício. A maioria dos serviços e atividades dependem deles. Importa pois, para além de salvaguardar a resistência e o comportamento estrutural, salvaguardar também a resistência destes elementos a forças de inércia horizontais a fim de minimizar perdas humanas, económicas ou funcionais.

A identificação e hierarquização dos elementos não-estruturais tem vindo a ser estudada nos últimos anos havendo ainda pouca documentação sobre o tema. Neste trabalho, indicam-se alguns elementos não-estruturais considerados mais relevantes em termos do seu impacto:

  • Risco para a vida ou integridade humana;
  • Risco associado a perdas económicas ou monetárias;
  • Risco de interrupção de negócio ou de disrupção funcional. Este conjunto incorpora apenas aqueles elementos não-estruturais passíveis de serem objeto de intervenção em obras de reabilitação, e resultou de trabalho recentemente efetuado no decorrer do Projeto KnowRISK financiado pela UE (Mota de Sá, 2017; Ferreira et al., 2018).

Os detalhes dos procedimentos de reforço destes objetos, passam por um conjunto de medidas que extravasam o âmbito deste documento, mas que podem ser consultados em FEMA E-74 e Ferreira et al., 2018. Pode ainda encontrar-se uma lista mais vasta, onde são incluídos, com detalhe, os pormenores de reforço sísmico de um conjunto destes elementos.

As medidas protetivas para os elementos não-estruturais são a maior parte delas de baixo custo (fixar, colar, ancorar), ou mesmo custo zero, quando se trata de mover objetos pesados de prateleiras mais altas para as mais baixas, por exemplo. São soluções que evitam que haja perda de bens, fator muito importante quando se trata de comércio, armazéns ou empresas. Evita também que um sismo moderado cause a diminuição ou perda de função de edifícios e infra-estruturas críticas, como centros de operações ou centros de telecomunicações, que devem estar operacionais logo após um sismo.

De uma forma genérica pode afirmar-se que estes elementos devem ser presos à estrutura resistente, recorrendo a procedimentos que vão desde a colagem, com colas apropriadas, à utilização de dispositivos mecânicos devidamente chumbados ou aparafusados. Em qualquer caso, e para efeito de possível dimensionamento dos aparelhos ou procedimentos de ancoragem, pode tomar-se como indicativo que os mesmos deverão suportar uma força horizontal (de arranque) não inferior ao seu peso.