Remoção de Paredes

Importa, por fim, abordar o complexo e grave problema da remoção, por vezes abusiva, de paredes, resistentes e não-resistentes.

Sendo compreensível que as atuais necessidades de espaços interiores possam ser incompatíveis com alguma exiguidade da compartimentação antiga, obrigando, aquando da reabilitação, à remoção de paredes para ampliação e adequação dos espaços às novas e modernas necessidades, o que não é admissível é que isso seja feito de forma aleatória, indiscriminada, eventualmente inconsciente ou, pior, de forma negligente, pondo em muito grave risco os edifícios assim intervencionados (Figura 1).

Se as paredes resistentes são a componente da estrutura que irá suportar as ações sísmicas, as paredes não-resistentes (que em muitos casos já estão a suportar cargas verticais para as quais não foram preparadas) desempenham também um importante papel de travamento e de redistribuição de esforços pelas restantes, pelo que a sua subtração deverá, também ela, ser feita com precaução e eventuais medidas de reforço. para contrariar os efeitos negativos.

Por outro lado, os danos provocados pela remoção de paredes, podem não só representar um caráter irreversível, como a reparação deste efeito é um problema complexo que exige cuidados redobrados.

A solução corrente, e amplamente utilizada, de substituição das paredes por vigamentos metálicos (Figura 2), embora possa ser eficaz na sustentação de cargas gravíticas verticais, é quase totalmente inútil na resistência a forças horizontais de inércia induzidas pelas ações sísmicas. A isso, acresce um aumento de esforços de compressão sobre as restantes paredes e pilares, sendo responsáveis por muitos dos fenómenos de esmagamento e de abaulamento das paredes em que se apoiam.

Assim, esta prática não deve ser generalizada e, nos casos em que tal tenha acontecido ou venha a acontecer, outras medidas devem ser previamente contempladas.

Como anteriormente referido, a presença de vigas metálicas, ou mesmo de betão, em substituição de paredes removidas é quase totalmente inútil na resistência a forças horizontais (forças sísmicas). Por isso, deve neste caso ser considerada a introdução de elementos estruturais verticais com capacidade de resistência ao corte, sendo, em última análise, necessário o recurso à execução de estruturas porticadas em betão armado (ou metálicas), com as suas próprias fundações, para que desse modo se assegure não apenas a resistência às forças verticais, mas também às horizontais.

Nestes casos, entra-se claramente no âmbito de uma reabilitação próxima da reabilitação profunda, com soluções de maior custo e de mais difícil e complexa execução. Contudo, se nos lembrarmos que estes edifícios, com todas as suas paredes originais, já apresentam uma significativa redução de resistência às ações sísmicas, então com paredes removidas, a sua vulnerabilidade vem em muito aumentada, não sendo possível escapar a uma intervenção já bastante forte e intrusiva.

Contudo, a introdução de estruturas de betão apresenta, também, inconvenientes pela grande desproporção entre a rigidez dos elementos de alvenaria e os de betão. Trata-se de uma situação já de reabilitação profunda, e, em casos extremos, não estamos perante aquilo a que se chama reabilitação, mas à construção de um edifício novo, com toda a sua estrutura em betão armado, separada das alvenarias, onde apenas se aproveitam as fachadas para lhe conferir um aspeto de edifício antigo reabilitado.

A remoção de paredes, interiores ou exteriores, deve assim ser encarada de uma forma não leviana, devendo as soluções adotadas ser objeto de cálculo sísmico e não apenas encaradas de forma empírica e pouco ponderada, como tem sido prática generalizada e corrente.

Em resumo, os principais problemas relacionados com a remoção de paredes, são os seguintes:

1 - A necessidade de reorganizar o espaço, criando divisões maiores, mais adaptadas a usos atuais, (mudança de usos e ampliação de espaços), conduz à consideração paredes com relevância para resistência a cargas horizontais (estruturais) das outras, como tabiques e outros tipos de paredes divisórias, mas mantendo ou aumentando a resistência global a forças horizontais.

2 - Como exemplos de paredes estruturais e de paredes divisórias, considerem-se os edifícios Pombalinos: os frontais, com cruz de Santo André (gaiola Pombalina), como o que se mostra na Figura 3, são paredes estruturais. Os tabiques com fasquiado horizontal e vertical apenas, como o que mostra na Figura 4, distorcem facilmente no seu plano, e por isso contribuem pouco para a resistência a forças horizontais. Por esta razão podem ser considerados paredes divisórias. Se, no entanto, os barrotes dos pavimentos apoiarem num tabique deste tipo, a remoção do tabique implica, pelo menos, a colocação de uma viga, para transferência das cargas verticais dos pavimentos para os elementos verticais adjacentes.

Existem outros tipos de tabiques, com fasquiado vertical e diagonal, como o que se mostra na Figura 5, que possuem rigidez relevante para cargas horizontais, e que, por esta razão, devem ser considerados paredes estruturais. Os frontais podem distinguir-se dos tabiques divisórios, em primeira instância, em função da respetiva espessura. Em geral, a espessura dos frontais é superior a 15 cm e a dos tabiques divisórios é inferior. A identificação de tabiques estruturais pode ser difícil, pois a diferença de espessura para tabiques divisórios pode ser pequena. Em caso de dúvida (situação plausível), recomenda-se a remoção do reboco, para possibilitar uma inspeção visual.

Noutros tipos de edifícios, como por exemplo os gaioleiros, a espessura das paredes pode também ser um bom indicador da natureza estrutural ou divisória das paredes: as paredes estruturais em alvenaria exterior são bastante espessas, mas outras paredes estruturais interiores, por exemplo na caixa de escadas, têm espessuras em geral de 20 cm ou mais. Paredes divisórias em tabique em geral, apresentam espessuras inferiores. No limite, para não haver dúvidas, pode ser útil remover rebocos para possibilitar uma inspeção visual. Em edifícios mais recentes em betão armado, em geral não é possível usar a espessura para distinguir paredes estruturais, em betão armado, de paredes divisórias, em geral em tijolo furado. Se uma inspeção visual exterior não for suficiente, pode ser necessário espetar um prego ou outra ação equivalente para identificar o material das paredes.

3 - Nos casos em que não seja razoável, do ponto de vista arquitetónico, evitar totalmente o corte de paredes estruturais, estas não devem ser substituídas apenas por vigas que transmitem as cargas verticais sobrejacentes para os pilares ou paredes adjacentes à zona cortada, mas por pórticos (pelo menos dois pilares e uma viga, ou eventualmente um quadro completo) a colocar, em princípio, no contorno da zona cortada e que assegurem uma capacidade para transmitir cargas verticais, e principalmente horizontais, entre os pisos acima e abaixo do painel de parede cortado.

Por outras palavras, há que garantir continuidade dos fluxos de carga em todo o perímetro do pórtico, em particular na base dos elementos verticais, através de ligações adequadas à estrutura existente.

4 - Estas modificações, pelo seu grau de complexidade e dificuldade de execução, devem ser minimizadas, e, se possível, evitadas.